sábado, 15 de junho de 2013

Grupo 5
Sequência de atividades
9º ano
Levantamento de hipóteses, ativação do conhecimento prévio, antecipação

“Pausa”
Moacyr Scliar
?? PAUSA ??
       O que será que este título quer dizer?
       Sobre o que será este texto? Qual o tema (assunto)?
       Quando é que usamos a PAUSA em nossa vida?
Apresentação do texto para o aluno
                 Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro. Fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
                —Vais sair de novo, Samuel?
                Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
                —Todos os domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
                —Temos muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
                Ela olhou os sanduíches:
                —Por que não vens almoçar?
                —Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
                A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse a carga, Samuel pegou o chapéu:
                —Volto de noite.
 As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
                —Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
                —Estou com pressa, seu Raul – atalhou Samuel.
                — Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre - Estendeu a chave.
                 Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
                —Aqui, meu bem! – uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
                 Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta a chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho: a um canto, uma bacia cheia d’água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
                Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se fechou os olhos.
                Dormir.
                Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a move-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
                Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido. 
                Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por um índio montado o cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhando de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
                Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
                Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
                — Já vai, seu Isidoro?
                —Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
                —Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente:
                —Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caia.
                —O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo.
                 Samuel saiu.
                Ao longo dos cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.
(in: Alfredo Bosi, org. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1977. p. 275)

Para você professor
                Feita a leitura de maneira coletiva, os alunos trabalharão o vocabulário do texto (com o auxílio do dicionário) a fim de melhorarem e ampliarem o entendimento do mesmo e neste momento trocarem informações prévias sobre o assunto trabalhado no conto.
             Após esta troca de informações, os alunos responderão um questionário para assimilação concreta do texto. Sendo utilizado para isso o recurso da monitoria, pois dessa forma será possível um trabalho mais amplo com a sala (já que o aluno com mais dificuldade será ajudado pelo colega, que neste caso, entendeu melhor o conteúdo)
1- Nesse conto, o narrador é observador. Ele narra o que acontece na vida da personagem Samuel/Isidoro.
a)      Quanto tempo transcorre entre o início e o final do conto?
b)      Como o narrador informa o leitor sobre o tempo decorrido?
2- O tempo e o espaço são elementos importantes para a construção do sentido das narrativas. No conto “Pausa”:
a)      Onde ocorrem os fatos?
b)      Qual deles é mais destacado? Justifique sua resposta.
c)      Como se caracteriza esse lugar?
d)     Que relação há entre o título, o lugar onde ocorre a maioria dos fatos e o tempo em que acontece a história?
e)     O trajeto que Samuel faz até o hotel, nos traz informações a respeito do espaço onde acontece a narrativa. Através delas é possível determinar qual o tipo de cidade que a personagem vive? Ela se parece com a sua?

            Localização e comparações de informações, a generalização e a produção de inferências.
                Ao ver estas imagens...é possível perceber alguma semelhança com o texto? Ou elas são totalmente diferentes?






Percepção de intertextualidade e de outras linguagens, bem como a comparação existente entre os gêneros e a capacidade de apreciação réplica do leitor em relação aos gêneros.

Click
 


·         O que o filme tem em comum com o texto Pausa ?
·         Como as personagens de ambos os gêneros (conto e filme) fogem da realidade em que se encontram?
·         Existe algum ou alguns momentos no filme que assim como no conto sugerem uma mudança na vida de suas personagens?
·         A mudança acontece somente no cenário(visual) ou ela ocorre também no textual (falas/linguagens) ? E esta mudança afeta o seu psicológico, sua personalidade?


Pausa
– Mario Quintana –
                Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa.
        Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?
        Com algum ciclista tombado?
        Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?
        E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.
        E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e, portanto mais verdadeira…
        E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
        Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.
        E agora?
        Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:  “Io sonno um poeta o sonno um imbecile?”
        Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia…
        A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.
        E daí?
        – Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança – , o melhor é repor depressa os óculos no nariz.
(A vaca e o hipogrifo. © by Elena Quintana. São Paulo, Globo.)

·         Será que esta pausa relatada por Mario Quintana é a mesma relatada por Moacyr?
·         “...E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará...”
·         A inquietação que toma conta do autor é semelhante a que percebe-se na vida de Isidoro/Samuel?



História de passarinho
Lygia Fagundes Telles
                Um ano depois os moradores do bairro ainda se lembravam do homem de cabelo ruivo que enlouqueceu e sumiu de casa.
                Ele era um santo, disse a mulher abrindo os braços. E as pessoas em redor não perguntaram nada e nem era preciso, perguntar o que se todos já sabiam que era um bom homem que de repente abandonou casa, emprego no cartório, o filho único, tudo.  E se mandou Deus sabe para onde.
                Só pode ter enlouquecido, sussurrou a mulher, e as pessoas tinham que se aproximar inclinando a cabeça para ouvir melhor. Mas de uma coisa estou certa, tudo começou com aquele passarinho, começou com o passarinho.
                Que o homem ruivo não sabia se era um canário ou um pintassilgo. Ô, Pai! caçoava o filho, que raio de passarinho é esse que você foi arrumar?!
                O homem ruivo introduzia o dedo entre as grades da gaiola e ficava acariciando a cabeça do passarinho que por essa época era um filhote todo arrepiado, escassa a plumangem de um amarelo-pálido com algumas peninhas de um cinza-claro.
                Não sei, filho, deve ter caído de algum ninho, peguei ele na rua, não sei que passarinho é esse.
                O menino mascava chicle. Você não sabe nada mesmo, Pai, nem marca de carro, nem marca de cigarro, nem marca de passarinho, você não sabe nada.
                Em verdade, o homem ruivo sabia bem poucas coisas. Mas de uma coisa ele estava certo, é que naquele instante gostaria de estar em qualquer parte do mundo, mas em qualquer parte mesmo, menos ali. Mais tarde, quando o passarinho cresceu, o homem ruivo ficou sabendo também o quanto ambos se pareciam, o passarinho e ele.
                Ai!, o canto desse passarinho, queixava-se a mulher. Você quer mesmo me atormentar, Velho. O menino esticava os beiços, tentando fazer rodinhas com a fumaça do cigarro que subia para o teto, Bicho mais chato, Pai, solta ele.
                Antes de sair para o trabalho, o homem ruivo costumava ficar algum tempo olhando o passarinho que desatava a cantar, as asas trêmulas ligeiramente abertas, ora pousando num pé ora noutro e cantando como se não pudesse parar nunca mais. O homem então enfiava a ponta do dedo entre as grades, era a despedida e o passarinho, emudecido, vinha meio encolhido oferecer-lhe a cabeça para a carícia. Enquanto o homem se afastava, o passarinho se atirava meio às cegas contra as grades, fugir, fugir.  Algumas vezes, o homem assistiu a essas tentativas que deixavam o passarinho tão cansado, o peito palpitante, o bico ferido. Eu sei, você quer ir embora, você quer ir embora mas não pode ir, lá fora é diferente e agora é tarde demais.
                A mulher punha-se então a falar, e falava uns cinqüenta minutos sobre as coisas todas que quisera ter e que o homem ruivo não lhe dera, não esquecer aquela viagem para Pocinhos do Rio Verde e o trem prateado descendo pela noite até o mar. Esse mar que, se não fosse o pai (que Deus o tenha!), ela jamais teria conhecido, porque em negra hora se casara com um homem que não prestava para nada, Não sei mesmo onde estava com a cabeça quando me casei com você, Velho.
                Ele continuava com o livro aberto no peito, gostava muito de ler. Quando a mulher baixava o tom de voz, ainda furiosa (mas sem saber mais a razão de tanta fúria), o homem ruivo fechava o livro e ia conversar com o passarinho que se punha tão manso que se abrisse a portinhola poderia colhê-lo na palma da mão. Decorridos os cinqüenta minutos das queixas, e como ele não respondia mesmo, ela se calava, exausta.  Puxava-o pela manga, afetuosa, Vai, Velho, o café está esfriando, nunca pensei que nesta idade avançada eu fosse trabalhar tanto assim. O homem ia tomar o café. Numa dessas vezes, esqueceu de fechar a portinhola e quando voltou com o pano preto para cobrir a gaiola (era noite) a gaiola estava vazia. Ele então sentou-se no degrau de pedra da escada e ali ficou pela madrugada, fixo na escuridão.             Quando amanheceu, o gato da vizinha desceu o muro, aproximou-se da escada onde estava o homem ruivo e ficou ali estirado, a se espreguiçar sonolento de tão feliz. Por entre o pêlo negro do gato desprendeu-se uma pequenina pena amarelho-acinzentada que o vento delicadamente fez voar. O homem inclinou-se para colher a pena entre o polegar e o indicador. Mas não disse nada, nem mesmo quando o menino, que presenciara a cena, desatou a rir, Passarinho burro! Fugiu e acabou aí, na boca do gato?
                Calmamente, sem a menor pressa, o homem ruivo guardou a pena no bolso do casaco e levantou-se com uma expressão tão estranha que o menino parou de rir para ficar olhando. Repetiria depois à Mãe, Mas ele até que parecia contente, Mãe, juro que o Pai parecia contente, juro!
                A mulher então interrompeu o filho num sussurro, Ele ficou louco.
                Quando formou-se a roda de vizinhos , o menino voltou a contar isso tudo, mas não achou importante contar aquela coisa que descobriu de repente: o Pai era um homem alto, nunca tinha reparado antes como ele era alto. Não contou também que estranhou o andar do Pai, firme e reto, mas por que ele andava agora desse jeito? E repetiu o que todos já sabiam, que quando o Pai saiu, deixou o portão aberto e não olhou para trás.

(In “Cadernos de Literatura Brasileira nº. 5”, editados pelo Instituto Moreira Salles, 1998)

·         Quais as semelhanças existentes entre as duas obras?

·         Nos dois contos os protagonistas parecem insatisfeitos com o seu cotidiano, mas acabam tomando atitudes distintas. Com qual dessas atitudes, você mais se identifica?



Um comentário:

  1. Patrícia, muito boa a sua S.A! A apresentação da situação, a estética,as questões,a intertextualidade proposta, o seu discurso! Parabéns!

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