Grupo 5
Sequência
de atividades
9º ano
Levantamento de hipóteses, ativação do
conhecimento prévio, antecipação
“Pausa”
Moacyr
Scliar
?? PAUSA
??
•
O que será que este título quer dizer?
•
Sobre o que será este texto? Qual o tema
(assunto)?
•
Quando é que usamos a PAUSA em nossa vida?
Apresentação
do texto para o aluno
Às sete horas o despertador tocou. Samuel
saltou da cama, correu para o banheiro. Fez a barba e lavou-se. Vestiu-se
rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a
mulher apareceu, bocejando:
—Vais
sair de novo, Samuel?
Fez
que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas
eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra
azulada. O conjunto era uma máscara escura.
—Todos
os domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
—Temos
muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
Ela
olhou os sanduíches:
—Por
que não vens almoçar?
—Já
te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A
mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse a carga, Samuel pegou o
chapéu:
—Volto
de noite.
As ruas ainda
estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava
vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa
travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou
apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo.
Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no
balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o
gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
—Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho
bom este, não é? A gente...
—Estou com pressa, seu Raul – atalhou Samuel.
— Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre -
Estendeu a chave.
Samuel subiu
quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres
gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
—Aqui, meu bem! – uma gritou, e riu: um cacarejo
curto.
Ofegante,
Samuel entrou no quarto e fechou a porta a chave. Era um aposento pequeno: uma
cama de casal, um guarda-roupa de pinho: a um canto, uma bacia cheia d’água,
sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um
despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho
franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata.
Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel
de embrulho, deitou-se fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a move-se:
os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um
círculo luminoso no chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície
imensa, perseguido por um índio montado o cavalo. No quarto abafado ressoava o
galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas,
corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor
lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio
acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhando de suor,
Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da
cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
— Já vai, seu Isidoro?
—Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou,
conferiu o troco em silêncio.
—Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente:
—Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela
porta; a noite caia.
—O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o
homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo dos cais, guiava lentamente. Parou um
instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado.
Depois, seguiu. Para casa.
(in: Alfredo Bosi, org. O
conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1977. p. 275)
Para você professor
Feita a leitura
de maneira coletiva, os alunos trabalharão o vocabulário do texto (com o
auxílio do dicionário) a fim de melhorarem e ampliarem o entendimento do mesmo
e neste momento trocarem informações prévias sobre o assunto trabalhado no
conto.
Após esta troca de
informações, os alunos responderão um questionário para assimilação concreta do
texto. Sendo utilizado para isso o recurso da monitoria, pois dessa forma será
possível um trabalho mais amplo com a sala (já que o aluno com mais dificuldade
será ajudado pelo colega, que neste caso, entendeu melhor o conteúdo)
1- Nesse conto, o narrador é
observador. Ele narra o que acontece na vida da personagem Samuel/Isidoro.
a) Quanto
tempo transcorre entre o início e o final do conto?
b) Como
o narrador informa o leitor sobre o tempo decorrido?
2- O tempo e o espaço são
elementos importantes para a construção do sentido das narrativas. No conto
“Pausa”:
a) Onde
ocorrem os fatos?
b) Qual
deles é mais destacado? Justifique sua resposta.
c) Como
se caracteriza esse lugar?
d) Que
relação há entre o título, o lugar onde ocorre a maioria dos fatos e o tempo em
que acontece a história?
e) O trajeto que Samuel faz até o hotel, nos
traz informações a respeito do espaço onde acontece a narrativa. Através delas
é possível determinar qual o tipo de cidade que a personagem vive? Ela se
parece com a sua?
Localização
e comparações de informações, a generalização e a produção de inferências.
Ao ver estas imagens...é possível perceber alguma
semelhança com o texto? Ou elas são totalmente diferentes?
Percepção de intertextualidade e de
outras linguagens, bem como a comparação existente entre os gêneros e a
capacidade de apreciação réplica do leitor em relação aos gêneros.
Click
·
O que o filme
tem em comum com o texto Pausa ?
·
Como as
personagens de ambos os gêneros (conto e filme) fogem da realidade em que se
encontram?
·
Existe
algum ou alguns momentos no filme que assim como no conto sugerem uma mudança
na vida de suas personagens?
·
A mudança
acontece somente no cenário(visual) ou ela ocorre também no textual
(falas/linguagens) ? E esta mudança afeta o seu psicológico, sua personalidade?
Pausa
– Mario Quintana –
– Mario Quintana –
Quando
pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na
feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem
os óculos sobre a mesa.
Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?
Com algum ciclista tombado?
Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?
E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.
E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e, portanto mais verdadeira…
E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.
E agora?
Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti: “Io sonno um poeta o sonno um imbecile?”
Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia…
A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.
E daí?
– Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança – , o melhor é repor depressa os óculos no nariz.
Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?
Com algum ciclista tombado?
Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?
E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.
E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e, portanto mais verdadeira…
E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.
E agora?
Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti: “Io sonno um poeta o sonno um imbecile?”
Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia…
A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.
E daí?
– Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança – , o melhor é repor depressa os óculos no nariz.
(A vaca e o hipogrifo. © by Elena Quintana. São Paulo,
Globo.)
·
Será que
esta pausa relatada por Mario Quintana é a mesma relatada por Moacyr?
·
“...E sinto que, enquanto eu não puder captar
a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará...”
·
A
inquietação que toma conta do autor é semelhante a que percebe-se na vida de
Isidoro/Samuel?
História de passarinho
Lygia Fagundes Telles
Um ano depois os moradores do bairro ainda se
lembravam do homem de cabelo ruivo que enlouqueceu e sumiu de casa.
Ele era um santo, disse a mulher abrindo os braços. E
as pessoas em redor não perguntaram nada e nem era preciso, perguntar o que se
todos já sabiam que era um bom homem que de repente abandonou casa, emprego no
cartório, o filho único, tudo. E se
mandou Deus sabe para onde.
Só pode ter enlouquecido, sussurrou a mulher, e as
pessoas tinham que se aproximar inclinando a cabeça para ouvir melhor. Mas de
uma coisa estou certa, tudo começou com aquele passarinho, começou com o
passarinho.
Que o homem ruivo não sabia se era um canário ou um
pintassilgo. Ô, Pai! caçoava o filho, que raio de passarinho é esse que você
foi arrumar?!
O homem ruivo introduzia o dedo entre as grades da
gaiola e ficava acariciando a cabeça do passarinho que por essa época era um
filhote todo arrepiado, escassa a plumangem de um amarelo-pálido com algumas
peninhas de um cinza-claro.
Não sei, filho, deve ter caído de algum ninho, peguei
ele na rua, não sei que passarinho é esse.
O menino mascava chicle. Você não sabe nada mesmo,
Pai, nem marca de carro, nem marca de cigarro, nem marca de passarinho, você
não sabe nada.
Em verdade, o homem ruivo sabia bem poucas coisas.
Mas de uma coisa ele estava certo, é que naquele instante gostaria de estar em
qualquer parte do mundo, mas em qualquer parte mesmo, menos ali. Mais tarde,
quando o passarinho cresceu, o homem ruivo ficou sabendo também o quanto ambos
se pareciam, o passarinho e ele.
Ai!, o canto desse passarinho, queixava-se a mulher.
Você quer mesmo me atormentar, Velho. O menino esticava os beiços, tentando
fazer rodinhas com a fumaça do cigarro que subia para o teto, Bicho mais chato,
Pai, solta ele.
Antes de sair para o trabalho, o homem ruivo
costumava ficar algum tempo olhando o passarinho que desatava a cantar, as asas
trêmulas ligeiramente abertas, ora pousando num pé ora noutro e cantando como
se não pudesse parar nunca mais. O homem então enfiava a ponta do dedo entre as
grades, era a despedida e o passarinho, emudecido, vinha meio encolhido
oferecer-lhe a cabeça para a carícia. Enquanto o homem se afastava, o
passarinho se atirava meio às cegas contra as grades, fugir, fugir. Algumas vezes, o homem assistiu a essas
tentativas que deixavam o passarinho tão cansado, o peito palpitante, o bico ferido.
Eu sei, você quer ir embora, você quer ir embora mas não pode ir, lá fora é
diferente e agora é tarde demais.
A mulher punha-se então a falar, e falava uns
cinqüenta minutos sobre as coisas todas que quisera ter e que o homem ruivo não
lhe dera, não esquecer aquela viagem para Pocinhos do Rio Verde e o trem
prateado descendo pela noite até o mar. Esse mar que, se não fosse o pai (que
Deus o tenha!), ela jamais teria conhecido, porque em negra hora se casara com
um homem que não prestava para nada, Não sei mesmo onde estava com a cabeça
quando me casei com você, Velho.
Ele continuava com o livro aberto no peito, gostava
muito de ler. Quando a mulher baixava o tom de voz, ainda furiosa (mas sem
saber mais a razão de tanta fúria), o homem ruivo fechava o livro e ia
conversar com o passarinho que se punha tão manso que se abrisse a portinhola
poderia colhê-lo na palma da mão. Decorridos os cinqüenta minutos das queixas,
e como ele não respondia mesmo, ela se calava, exausta. Puxava-o pela manga, afetuosa, Vai, Velho, o
café está esfriando, nunca pensei que nesta idade avançada eu fosse trabalhar
tanto assim. O homem ia tomar o café. Numa dessas vezes, esqueceu de fechar a
portinhola e quando voltou com o pano preto para cobrir a gaiola (era noite) a
gaiola estava vazia. Ele então sentou-se no degrau de pedra da escada e ali
ficou pela madrugada, fixo na escuridão. Quando
amanheceu, o gato da vizinha desceu o muro, aproximou-se da escada onde estava
o homem ruivo e ficou ali estirado, a se espreguiçar sonolento de tão feliz.
Por entre o pêlo negro do gato desprendeu-se uma pequenina pena
amarelho-acinzentada que o vento delicadamente fez voar. O homem inclinou-se
para colher a pena entre o polegar e o indicador. Mas não disse nada, nem mesmo
quando o menino, que presenciara a cena, desatou a rir, Passarinho burro! Fugiu
e acabou aí, na boca do gato?
Calmamente, sem a menor pressa, o homem ruivo guardou
a pena no bolso do casaco e levantou-se com uma expressão tão estranha que o
menino parou de rir para ficar olhando. Repetiria depois à Mãe, Mas ele até que
parecia contente, Mãe, juro que o Pai parecia contente, juro!
A mulher então interrompeu o filho num sussurro, Ele
ficou louco.
Quando formou-se a roda de vizinhos , o menino voltou
a contar isso tudo, mas não achou importante contar aquela coisa que descobriu
de repente: o Pai era um homem alto, nunca tinha reparado antes como ele era
alto. Não contou também que estranhou o andar do Pai, firme e reto, mas por que
ele andava agora desse jeito? E repetiu o que todos já sabiam, que quando o Pai
saiu, deixou o portão aberto e não olhou para trás.
(In “Cadernos de Literatura Brasileira nº. 5”, editados
pelo Instituto Moreira Salles, 1998)
·
Quais as
semelhanças existentes entre as duas obras?
·
Nos dois
contos os protagonistas parecem insatisfeitos com o seu cotidiano, mas acabam
tomando atitudes distintas. Com qual dessas atitudes, você mais se identifica?
Patrícia, muito boa a sua S.A! A apresentação da situação, a estética,as questões,a intertextualidade proposta, o seu discurso! Parabéns!
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